domingo, 6 de maio de 2018

AUTOPRESERVAÇÃO


AUTO PRESERVAÇÃO.jpg
Em um episódio de Foyles War, um seriado de TV que tem como cenário a Grã-Bretanha no início da Segunda Guerra Mundial, os britânicos viviam na iminência de seu país ser invadido pelos nazistas, que já haviam derrotado os franceses. Por causa da incerteza, do medo do futuro e da sensação de que precisavam se proteger, várias pessoas passaram a se preocupar menos com os outros do que o fariam sob circunstâncias normais. Alguns começaram a acumular mais do que precisavam; outras, a furtar e algumas até mataram.

Houve porém os que reagiram de maneira completamente diferente e se tornaram heróis e heroínas, não por causa de grandes atos de bravura, mas de pequenos atos altruístas. Enfrentaram as dificuldades com dignidade, ajudaram-se mutuamente, zelaram pelo bem-estar dos vizinhos e compartilharam o que tinham com os demais.

O contraste entre esses dois tipos de reação me fez pensar nos desafios que enfrentamos em circunstâncias incertas e difíceis. Em tempos de turbulências econômicas ou sociais, quando há mudanças no status quo e tudo parece estar de pernas para o ar, é natural as pessoas se preocuparem primeiro e acima de tudo com elas mesmas. Nem todas têm a mesma reação, mas, em algumas, o instinto natural e egoísta de autopreservação passa a ter um papel mais proeminente.

Em circunstâncias instáveis ficamos desestabilizados. Quando o que tínhamos por terreno firme começa a parecer a areia que é carregada pelo vento, o medo pode nos dominar —em relação ao futuro e às mudanças que nos são impostas. Se deixarmos o temor sobrepujar nossa fé, nossa confiança em Deus diminui e sentimos que cabe anós assumir o controle da situação. Isso não é algo necessariamente ruim, porque a nossa natureza nos diz para lutar ou fugir. Por isso, quando percebemos um perigo, reagimos automaticamente para proteger a nós mesmos e aos nossos.

O desafio é encontrar o equilíbrio entre a natureza humana e a espiritual. Nós, cristãos, somos “novas criaturas” com mais do que a natureza humana. “Se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, tudo se fez novo.” O Espírito de Deus habita em nós. “Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” Vivemos em Jesus, e Ele em nós. “Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós. O ramo de si mesmo não pode produzir fruto, se não estiver na videira. Tampouco vós podeis produzir fruto, se não permanecerdes em Mim”

Nossas reações às circunstâncias e acontecimentos devem ser influenciadas pela presença de Cristo em nós. Mesmo que nos sintamos naturalmente levados a lutar pela autopreservação, o Espírito de Deus pode moderar essa reação e nos ajudar a dar uma resposta equilibrada, mais compatível com a natureza de Cristo. “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio.”.

Reagir assim não é fácil, porque a natureza humana é exatamente isto: humana! Nascemos programados para reagir de uma determinada maneira. Pensar nos outros ou em suas necessidades, situações ou lutas não é nossa maior prioridade natural. Isso gera o risco de minimizarmos ou até ignorarmos completamente as necessidades de outros em favor das nossas.

Se avançarmos com nossos planos de autopreservação sem consideração pelas pessoas Tao nosso redor, arriscamo-nos a tomar decisões que vão prejudicar os outros. As promessas e compromissos que fizemos passarão para o segundo plano e a tendência será fazermos o que é melhor para nós. Isso pode causar desapontamentos, ressentimentos e rancores —que prejudicarão amizades. Os afetados pelo nosso egoísmo vão sofrer, porque permitimos que a natureza humana prevalecesse sobre o Espírito de Deus em nós.

Quando isso acontece, nós também sofremos. Mesmo que não entendamos assim, pelo menos imediatamente, seremos prejudicados. Privamo-nos das bênçãos de Deus e perdemos o respeito dos outros. Li que uma pessoa insatisfeita com um produto, geralmente, falará disso para outras 50 pessoas. Se ferirmos a confiança de alguém em nós com nossos atos de autopreservação, pode ser que essa pessoa nunca volte a confiar em nós completamente. Se prejudica os outros, somos também prejudicados.

Não é errado cuidar das próprias necessidades e das dos seus. Entretanto, na qualidade de discípulos de Jesus, cheios do Seu Espírito, devemos estar atentos não apenas a nós, mas pensar também nos outros. “Não atente cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros.” É preciso encontrar o equilíbrio correto entre essas duas necessidades

Fonte: Decocções Diárias