quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

EXERCICIO DA ESPERA

Frase para refletir:
“O que prevemos raramente ocorre; o que menos esperamos geralmente acontece” (Benjamin Disraeli, político e escritor britânico, 1804 – 1881).
O Tempo do Advento, em preparação ao Natal cristão, é entendido como tempo de espera.
 É uma espera serena e confiante nas bases da Fé. Espera-se o inesperado. Daí, o preceito da vigilância, pois tudo acontece como dádiva, como surpresa e como presente. Presente enquanto uma presença que vem a nós. Vem a nós não porque está distante ou fora de nós. Mas, porque irrompe em nós quando menos esperamos. Essa irrupção não depende de nossas prevenções e cálculos. Na dimensão da Fé, o cálculo e a prevenção mais atrapalham do que ajudam. Trata-se da graça de um encontro que já se deu na História, que sempre se dá e sempre se dará naqueles que vivem nessa e dessa dimensão da Fé.
Tal encontro se renova a cada Natal. É o encontro com o Deus que se faz humano e nos irmana e humaniza. Para estar na graça desse encontro, o mais importante não é o que fazemos, mas o não fazer nada, apenas receber. Só que para receber precisamos fazer muito, visto que em nós, comumente, a capacidade de recepção está ofuscada e oprimida pelos cálculos, pela impaciência, pela pressa, pelos muitos afazeres que anuviam o Divino em nós. Sobretudo, pelos tantos conceitos, preconceitos, compreensões e incompreensões acerca do Divino em nós, na história e no universo. Todas essas coisas fazem com que saibamos muito sobre Deus, mas nada acerca de Deus. Fazem com que tenhamos um modo de ser que precisa saber e controlar tudo, até o saber e o não saber sobre quem é Deus e quem Ele não é. Controlar como ele pensa, sente, age etc.. E quando nada disso se encaixa em nossos cálculos, o ateísmo, a indiferença, a revolta, o ódio e até a perseguição religiosa a si mesmo e aos outros, sob tantas formas e requintes, se instaura no mundo.
Dessa forma, passamos a rejeitar e a condenar toda e qualquer forma de expressão religiosa no mundo que aponte ou expresse o Divino. O Advento que nos prepara para o Natal cristão é sempre de novo essa graça e esse desafio de nos desnudar desse modo calculista, frio e controlador de lidar com a Fé e a não fé, deixando ser o que o Divino é, não o que queremos que seja, pois na história, todas as vezes que tentamos controlar o Divino em nós e fora de nós, incorremos em idolatria, guerras, dogmatismos e fundamentalismos religiosos e ateus, jamais em Fé ou religiosidade.
O Advento é um convite ao exercício da espera, jamais ao controle. Esperar para receber. E para receber a melhor atitude é aguardar o inesperado, pois como diz Paulo em I Coríntios 2,10-11: “As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus”. No Advento tenhamos essa docilidade e abertura ao Espírito, para receber em plenitude essa revelação sempre antiga e sempre nova da Boa Notícia da Palavra de Deus. Essa Boa Notícia abre nossos olhos, nossos ouvidos, nosso coração e todo o nosso ser para compreender e amar a nós mesmos, o outro, a vida, o mundo, enfim, tudo o que existe, na sua verdade e profundidade maior.
O inesperado disso é que não vem de nós mesmos, mas de uma revelação aos que se colocam na atitude de receber. Receber o que já aconteceu, acontece e acontecerá sempre a cada Natal. Será que não está aí o desafio de expectativa ao inesperado para o qual nos encaminha o tempo do Advento? Isto é, o de deixar ser a realização das palavras bem cunhadas de I João 3,2 quando diz: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos”. O Advento nos prepara para essa visão e realização que está fora de nosso controle. É pura graça de um encontro e reencontro natalino.
Fonte: Meditação Diária